quarta-feira, 30 de julho de 2008

Mataram a Avestruz! (Ana Maria Maruggi)




Há dias a cidade Hortinha se preparava para o Natal que desta vez se realizaria a céu aberto com união de todas as famílias da cidade. Uma grande iniciativa da prefeita Dona Augusta Avestruz Lima, a qual seria composta de uma única mesa com mais de duzentos metros de cumprimento que seria montada na praça olímpica e a explosão simultânea de muitos fogos de artifício na contagem regressiva. A festa prometia!

A cidade inteira estava mobilizada nesse evento. As rádios locais já anunciavam a grandiosidade da festa o que fazia com que outros municípios entrassem em polvorosa. Os prefeitos dos partidos adversários contestavam dizendo que a festa natalina é familiar e deve ser realizada no aconchego do lar. Outros diziam que a prefeita Augusta estava utilizando de verbas públicas numa ação eleitoreira. E havia quem achasse um desperdício de verba haja vista que a cidade de Hortinha necessitava de um hospital ou um pronto socorro, pois as pessoas morriam à caminho do atendimento mais próximo que distava 13 quilômetros. Mas Dona Augusta não se deixava abater e animava mais e mais a população com os proprósitos do Natal. Muitas empresas se inscreviam para "colaborar" com a festa em troca de incentivos fiscais.

Tudo estava indo bem quando uma notícia correu pelos ouvidos dos Hortinhenses: “a prefeita foi baleada”. Os jornais noticiaram como revide político. A distancia da cidade até o hospital mais próximo foi o inimigo maior de dona Augusta e ela morreu à caminho do hospital. O vice-prefeito opositor de Dona Augusta assumiu imediatamente o cargo, e o caso passou a ser um caso de polícia. A festa acabou quando os jornais estamparam em primeira página a pior manchete natalina para aquela cidade: “MATARAM A AVESTRUZ!”...

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Falando sério... Gabriela Araujo



Falando sério...
Gabriela Araujo

Não importava o lugar, as pessoas, o ano, o momento ou o dia da semana. Insinuavam que o jeito único e incomparável de vestir-se, o corte de cabelo desatualizado, idéias comprometedoramente criativas, opiniões transparentes, sentimentos expostos demais e gestos extravagantes refletiam seu pouco caso para tudo e com todos.

Não precisava falar. Sua imagem causava incômodo nas mães que garantiam a personificação do fracasso e desgosto que os filhos, ainda crianças, jamais se tornariam. Já as mais velhas ou solteiras passavam longe, mas não deixavam de comentar aquela figura descomungada. Rapazes e senhores gargalhavam em deboche a graça do bobo e nele o cuspiam o escarro da desaprovação. Vivia refletindo uma imagem enorme para aquela civilização contida o suficiente para caber em uma caixinha de fósforos.

Era inadequado para qualquer situação. Talvez por suas idéias progressistas, talvez pelo excesso de criatividade, talvez porque andava rumo a qualquer direção ou por não se restringir aos obstáculos impostos pelas regras e costumes da boa aparência.

Ele era um, enquanto os outros se assemelhavam.

Viveu só e morreu incompreendido. Mas, continua posto em pessoas excêntricas, recriminadas e julgadas por preferirem o azul ao invés do amarelo, em gente que não age e não pensa como a gente.

Falando sério, gostaria de ser como eles que julgo através de atos falhos e do meu impregnado senso comum! Gostaria de não me limitar no mais um e ser um só.

domingo, 27 de julho de 2008

Falando serio...Noemi Carvalho



FALANDO SÉRIO!!!
Millôr Fernandes escreveu (Poemeu Efemérico)
*Viva o Brasil
Onde o ano inteiro
É primeiro de abril.*

Falando Sério!É sempre dia da mentira na terra dos tupiniquins?

A bandeira continua verde, amarelo, azul e branco. Mas outras cores se acrescentam: o vermelho derramado pelas vítimas da violência.O preto-luto pela vergonha da corrupção em Brasília.O amarelo do sorriso desconfiado do povo que não acredita em mais nada.

Falando Sério!E não é que o Millôr tem razão?Neste país amado, brinca-se do faz de conta. O melhor emprego é ser político e ainda com nível universitário. Assim, o cidadão conta todas as mentiras e não é castigado.

Ecoou-se o mantra:*Nesta terra em tudo se plantando... dá!*

E foi o início de uma aventura de algum engraçadinho que acreditava em tudo dar um jeitinho para conseguir seu objetivo.

Então as distorções de caráter, de integridade, dos valores do homem brasileiro começaram a se formar. Não foi preciso muito, não! Foi a vontade do cidadão.

Unicamente a vontade do homem que quis que assim fosse. Será que agora esse mesmo homem, cidadão brasileiro com herança tão devastadora quer se aventurar em nova façanha de uma nova Pátria formar?

----O Brasil não precisa melhorar. Está tão bom assim!!!----

Nós nos acomodamos à imagem de palhaços que somos, manipulados em trapézios e cordas mirabolantes para sobrevivermos. Nós, o povo se contarmos mentiras, sabem o que acontece? Nosso nariz cresce e o mundo todo vai descobrir e seremos castigados.

Falando Sério, o povo gosta de ser enganado e castigado!!!

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Antes eu era agora eu nasci!



Antes eu era agora eu nasci
Texto de Gabriela Araujo

Racionalizava sempre tudo o que estava ao meu alcance. Insistentemente procurava respostas para todos, ou quase todos, os porquês. Buscava eliminar hipóteses, desmistificar os sentidos, desvendar os segredos. Solucionava.

Compreendendo me colocava em um nível superior. Nada era capaz de me atingir. As palavras eram medíocres para meu vasto vocabulário. O tempo escasso diante minha eternidade. A luz pouca comparada ao meu brilho. As pessoas eram imperfeitas demais, os sentimentos eram rasos demais, a vida era legível demais.
Eu era! Eu era forte, era capaz, era única.

Sem que você percebesse, lentamente me mostrou uma realidade por mim nunca habitada. Um mundo que eu nunca quis conhecer. Talvez por medo de me machucar. Talvez porque no fundo eu sabia que era frágil o suficiente para sofrer.

Hoje sou assim como você me vê. Não consigo entender. Não acho mais as respostas. As palavras me machucam e a falta delas me doe. Agora eu choro. Choro por você, choro para você.

Minhas imperfeições gritam e as duvidas permanecem. Não descubro, não penso, não posso programar. Parei de só acertar, agora eu erro. Eu me desconcentro, me percebo, te percebo, te toco e peço que você me toque.
Eu nasci, nasci porque agora eu amo. Eu te amo.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Falando sério...



Falando sério...
Ana Maria Maruggi

Um nó na cabeça e tropeços no andar fatigado, as ancas caídas e peito sôfrego não desanimavam a mãe desesperada em busca do filho desaparecido.

Já passava das cinco da tarde quando em lágrima e gritos toscos Dona Silvana ainda corria de um lado para outro dentro da estação de metrô em São Paulo. A multidão se debatia por um espaço no corredor que levava à bilheteria e a mulher agonizava em meio a esse turbilhão.

Às duas da tarde o garoto de quatro anos segurava firme na mão de Dona Silvana até o momento em que ela o soltou para apanhar o bilhete na bolsa. Não deve ter durado nem dois minutos e foi tempo suficiente para desaparecer do local o menino Fernando. Espantada ela olhou para todos os lados chamando-o pelo nome. Os seguranças da estação Bresser foram alertados e imediatamente posicionaram-se nas saídas, mas nenhuma criança passou por ali. Os trilhos foram examinados, e nada. Os banheiros evacuados, os nichos, as pequenas lojas. Todos foram indagados e ninguém viu a criança.

A Polícia Militar foi chamada e Dona Silvana espumava pelo canto da boca enquanto gritava ao tentar contar o ocorrido. Desmaiou por alguns segundos e foi socorrida pelos paramédicos de plantão. A estação foi bloqueada por quase uma hora e novamente tudo foi vasculhado, na Bresser e em todas as outras estações. Pela câmara de segurança era visível a criança segurando a mão da mãe ao descer pela escada rolante. Na catraca uma multidão aglomerou-se e a criança não pôde mais ser vista.

Noite alta e a mulher não queria ir para casa sem o seu Fernando. O que diria aos outros dois filhos? Como relatar essa desgraça para o esposo que sofria do coração? Mãe relapsa que era. Como encarar a vida tendo como carga esse pecado pesado de não ter sido capaz de cuidar de uma criança de quatro anos? Abatida ela encontra forças para correr de encontro ao último trem que chegava à Bresser naquele momento...

terça-feira, 22 de julho de 2008

Nossa primeira Oficina na Casa das Rosas

Hoje, dia 22 de Julho de 2008, aconteceu nossa primeira oficina de textos em espaço cedido pela Casa das Rosas. Os participantes, 19 pessoas, criaram textos sobre nascimento e morte, debateram sobre a poesia "hora íntima" de Vinícius de Moraes, além de cantarem acompanhadas pelo violão matreiro de Maura Fernandes.

Nossa oficina é assim: artística e cultural.

Não deixem de criar o texto solicitado para o BLOG: Falando sério...

No próximo encontro, terça feira dia 29, a Cida vai falar de Manuel Bandeira. Não percam!

Ah, vejam as fotos de hoje:


Dona Kina de Oliveira, Ivone e Maria José P. Souza



Dona Kina de Oliveira em meio à sua poesia. Noemi Carvalho conferia de pertinho.E Dona Ivonete Miranda também.Enquanto isso Dona Carmem e a Maria José aproximavam-se.



Dona Iraci, Isabela (neta da Dinah), Irene Bassi (poeta e escritora) irmã de Dona Kina. Lá atrás o doce riso da Gilda, e a presença silenciosa de sua amiga.



Enquanto a Maura cantava...a Gilda se emocionava e vertia lágrimas. E dá para ver um pedacinho da Amélia com seu cabelo loiro, lá no fundo da sala.



Maura e Maria Salete cantando Dolores Duran.



Aplausos para as poesias, para as prosas, e para as músicas apresentadas.



Ivone apresentando seu texto.



Gabriela e seu texto "eu te amo".



Como é linda a Casa das Rosas, vejam essa janela onde está a Anita e a Cida!



Enquanto isso o texto fluía... A Dinah estava lá mas não apareceu em nenhuma foto pois ela estava encarregada das fotos.

Ah, assinamos o livro de presença que deverá ser mantido em todos os encontros.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Meu primeiro amor

Esse também será tema de um dos encontros da Oficina: Meu primeiro amor.

Esse título tão "batido", tão "comum" já foi explorado por inúmeros compositores, poetas, escritores e até pelo cinema.

Bruno e Marrone, a dupla sertaneja, gravou "Meu primeiro amor":

Saudade, palavra triste
Quando se perde um grande amor,
Na estrada longa da vida
Eu vou chorando a minha dor

Igual a uma borboleta
Vagando triste por sobre a flor
Teu nome sempre em meus lábios
Irei chamando por onde for

Outra dupla José Fortuna e Pinheirinho falaram assim do primeiro amor:
Saudade palavra triste
Quando se perde um grande amor
Na estrada longa da vida
Eu vou chorando a minha dor
Igual uma borboleta
Vagando triste por sobre a flor
Seu nome sempre em meus lábios
Irei chamando por onde for
Você nem sequer se lembra
De ouvir a voz desse sofredor
Que implora por seu carinho
Só um pouquinho do teu amor
Meu primeiro amor
Tão cedo acabou
Só a dor deixou
Nesse peito meu
Meu primeiro amor
Foi como uma flor
Que desabrochou
E logo morreu
Nesta solidão
Sem ter alegria
O que me alivia
São meus tristes ais
São prantos de dor
Que dos olhos caem
É porque bem sei
Quem eu tanto amei
Não verei jamais


Você nem sequer se lembra
De ouvir a voz desse sofredor
Que implora por seus carinhos
Só um pouquinho do seu amor

Meu primeiro amor
Tão cedo acabou,
Só a dor deixou
Nesse peito meu

Meu primeiro amor
Foi como uma flor
Que desabrochou e logo morreu
Nesta solidão, sem ter alegria
O que me alivia são meus tristes... ais...
São prantos de dor
Que dos olhos caem
É porque bem sei
Quem eu tanto amei
Não verei...
Jamais...



My Girl - gravada em 1991 - Em português: Meu primeiro amor
Escrita por Smokey Robinson e Ronald White.
Interpretada por The Temptations.


Meu Primeiro Amor também foi título em português para o filme My Girl com Com Dan Aykroyd, Jamie Lee Curtis, Macaulay Culkin e Anna Chlumsky. Veja filme:




Renato e Seus Bluecaps, banda dos anos 60, também teve seu "Meu primeiro amor" gravado nessa época.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Avenida Paulista











A avenida Paulista foi inaugurada no dia 8 de dezembro de 1891, por iniciativa do engenheiro Joaquim Eugênio de Lima, para abrigar paulistas que desejavam adquirir seu espaço na cidade. À época, houve grande expansão imobiliária em terrenos de antigas fazendas e áreas devolutas, o que deu início a um período de grande crescimento. As novas ruas seguiam projetos desenvolvidos por engenheiros renomados, e nas áreas mais próximas à avenida e a seu parque central os terrenos eram naturalmente mais caros que nas áreas mais afastadas; não havia apenas residências de maior porte, mas também habitações populares, casebres e até mesmo cocheiras em toda a região circundante (vide memórias de Lucia Salles).

Algum tempo após a construção da avenida foram aprovadas leis que desviavam o tráfego de muares e animais de carga devido ao grande volume de excremento depositado na via carroçável e à impossibilidade de o poder público mantê-la limpa; logo, o tráfego foi desviado para a rua que ladeia a avenida Paulista e hoje é a Alameda Santos, sendo autorizado apenas em horários pré-estabelecidos. Seu nome seria avenida das Acácias ou Prado de São Paulo, mas Lima declarou:

"Será avenida Paulista, em homenagem aos paulistas".

A primeira fase da Avenida Paulista é o momento de concretização da vocação de grandeza desse fenômeno urbanístico de São Paulo. Aos poucos ela se transformou em foco de animação da cidade. Os ricos senhores do café e da nascente burguesia comercial, industrial e financeira construíram elegantes casarões, de um ecletismo arquitetônico incomum. Corridas de charrete, de cabriolés e dos primeiros automóveis, os corsos carnavalescos dos anos 20 e 30, a beleza da mata nativa do Parque da Avenida e a folia dos Salões do Belvedere Trianon traduziam a presença marcante da Paulista na história da cidade.


No fim do anos 20, seu nome foi alterado para avenida Carlos de Campos, homenageando o ex-presidente do estado, mas a reação da sociedade fez com que a avenida voltasse a ter o nome com o qual foi criada e é conhecida até os dias de hoje.

A avenida foi aberta seguindo padrões urbanísticos relativamente novos para a época: seus palacetes possuíam regras de implantação que, como conjunto, caracterizaram uma ruptura com os tecidos urbanos tradicionais. Os novos palacetes incorporavam os elementos da arquitetura eclética (tornando a avenida uma espécie de museu de estilos arquitetônicos de períodos e lugares diversos) e dos novos empreendimentos norte-americanos: estavam todos isolados no meio dos lotes nos quais se implantavam, configurando um tecido urbano, diferente do restante da cidade, que alinhava a fachada das edificações com a testada do terreno. Isso fez com que a avenida possuísse uma amplidão espacial inédita na cidade.

A avenida Paulista foi a primeira via pública asfaltada de São Paulo, com material importado da Alemanha.

Esse perfil estritamente residencial da avenida permaneceu até meados da década de 1950, quando o desenvolvimento econômico da cidade levava os novos empreendimentos comerciais e de serviços para regiões afastadas do seu centro histórico. Em pouco tempo, praticamente, todos os palacetes da avenida tinham sido vendidos e substituídos por pequenos prédios de escritórios e comércio.

Durante as décadas de 60 e 70, porém, e seguindo as diretrizes das novas legislações de uso e ocupação do solo, e a valorização dos imóveis incentivada pela especulação imobiliária, começaram a surgir naquele local os seus agora característicos "espigões" - edifícios de escritórios com 30 andares em média.

Curiosidades:
1 - O Museu de Arte de São Paulo foi para a nova sede em 7 de novembro de 1968, sendo inaugurada pela rainha do Reino Unido, Elisabete II, na presença do então governador Roberto Costa de Abreu Sodré e dona Maria do Carmo de Abreu Sodré.

2 - O desfile comemorativo do Sesquicentenário da Independência do Brasil, em 7 de setembro de 1972, foi realizado com muita pompa na avenida Paulista.

Nos dias de hoje a Avenida continua sendo um dos pontos culminantes de negócios de São Paulo.

Bossa Nova - 50 anos

Bossa Nova - Um pouco da história da música brasileira contada pelos seus autores:




Vamos utilizar como símbolo dessa geração o poetinha Vinicius de Moraes que soube como ninguem falar de amor em suas músicas e poesias, e como símbolo também a música Garota de Ipanema de Vinícius e Tom Jobim.

Originalmente, Vinícius de Moraes fez uma versão diferente desta música, com o nome de Menina que passa, que continha a letra:

Vinha cansado de tudo
De tantos caminhos
Tão sem poesia
Tão sem passarinhos
Com medo da vida
Com medo de amar

Quando na tarde vazia
Tão linda no espaço
Eu vi a menina
Que vinha num passo
Cheio de balanço
Caminho do mar

Porém, nem Tom Jobim nem Vinícius de Moraes gostaram da letra da canção. Então a versão definitiva foi refeita mais tarde por Vinicius, inspirado numa moça que passava freqüentemente em frente ao Bar Veloso (hoje Garota de Ipanema), que se chamava Heloísa Eneida Menezes Pais Pinto - mais conhecida como Helô Pinheiro, em Ipanema.




Tom e Vinícius freqüentavam assiduamente o bar, que dispunha de pequenas mesas na calçada. A Garota de Ipanema, Heloísa, morava na rua Montenegro, número 22 e somente dois anos e meio depois, já com namorado, que ficou sabendo que era a inspiração da canção. Quando se casou, provavelmente em retribuição à homenagem, Heloísa convidou Tom Jobim e sua esposa Teresa para serem padrinhos.

Garota de Ipanema
Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça
É ela a menina que vem e que passa
Num doce balanço, caminho do mar

Moça do corpo dourado, do sol de Ipanema
O seu balançado é mais que um poema
É a coisa mais linda que eu já vi passar

Ah, por que estou tão sozinho?
Ah, por que tudo é tão triste?
Ah, a beleza que existe
A beleza que não é só minha
Que também passa sozinha

Ah, se ela soubesse que quando ela passa
O mundo inteirinho se enche de graça
E fica mais lindo por causa do amor



Garota de Ipanema foi gravada em diversos idiomas e por interpretes do mundo inteiro. Neste video vamos ver Frank Sinatra e Tom Jobim dividindo o palco.






Soneto da Fidelidade declamado pelo seu autor: Vinicius de Moraes:



Soneto de Fidelidade

Vinicius de Moraes


De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.



Para Viver Um Grande Amor

Vinicius de Moraes


Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... — não tem nenhum valor.

Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro — seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.

Para viver um amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fidelidade — para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.

Para viver um grande amor, il faut além de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito — peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.

É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista — muito mais, muito mais que na modista! — para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...

Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs — comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor?

Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto — pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente — e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia — para viver um grande amor.

É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que — que não quer nada com o amor.

Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva oscura e desvairada não se souber achar a bem-amada — para viver um grande amor.


Texto extraído do livro "Para Viver Um Grande Amor", José Olympio Editora - Rio de Janeiro, 1984, pág. 130.

Como vai você? Roberto Carlos



Como Vai Você
Roberto Carlos
Composição: Antônio Marcos / Mario Marcos

Como vai você ?
Eu preciso saber da sua vida
Peça a alguém pra me contar sobre o seu dia
Anoiteceu e eu preciso só saber
Como vai você ?
Que já modificou a minha vida
Razão de minha paz já esquecida
Nem sei se gosto mais de mim ou de você

Vem, que a sede de te amar me faz melhor
Eu quero amanhecer ao seu redor
Preciso tanto me fazer feliz

Vem, que o tempo pode afastar nós dois
Não deixe tanta vida pra depois
Eu só preciso saber
Como vai você

Como vai você ?
Que já modificou a minha vida
Razão da minha paz já esquecida
Nem sei se gosto mais de mim ou de você

Vem, que a sede de te amar me faz melhor
Eu quero amanhecer ao seu redor
Preciso tanto me fazer feliz

Vem, que o tempo pode afastar nós dois
Não deixe tanta vida pra depois
Eu só preciso saber
Como vai você

terça-feira, 8 de julho de 2008

20ª Bienal Internacional do Livro em São Paulo





A AJEB convida você para nos fazer uma visita na Bienal do Livro que acontecerá de 14 a 24 de agosto de 2008, no Pavilhão de Exposições do Anhembi

Cassiano Ricardo




Cassiano Ricardo Leite, nasceu em São João dos Campos (SP), em 1895, e faleceu no Rio de Janeiro, em 1974. Estudou Direito em São Paulo e no Rio de Janeiro, onde diplomou-se em 1917. Retorna a São Paulo, dedicando-sse ao jornalismo, à administração pública e à política. Com Menotti del Picchia e Plínio Salgado, funda o Movimento Verde-amarelo, participando da corrente nacionalista do Modernismo brasileiro. Em 1937, foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras.

OBRAS
Poesia: Dentro da noite (1915); A Frauta de Pã (1917); Vamos caçar papagaios (1926); Martim-Cererê ou O Brasil dos meninos, dos poetas e dos heróis (1928); O sangue das horas (1943); Um dia depois do outro (1947); Jeremias sem-chorar (1963); Os sobreviventes (1971).

CARACTERÍSTICAS DA OBRA

Como outros modernistas da primeira fase, Cassiano Ricardo estreou sob influências parnasiano-simbolistas, de que são exemplos os livros Dentro da noite (1915) e A frauta de Pã (1917). Contudo, sua inquietação estética fez com que chegasse a experiências das vanguardas poéticas mais recentes.
Com Vamos caçar papagaios (1926) e Martim-Cererê (1928), o poeta entra em sua fase nacionalista “verde-amarelista”, em que predomina a brasilidade dos temas.

Martim-Cererê, o livro mais importante dessa fase, é uma recriação poética da descoberta e colonização do Brasil. Nele, o poeta incorpora ao seu canto a fauna e a flora brasileiras, o índio, o bandeirante, o imigrante, a temática penetração territorial, a fundação das cidades, nossos heróis e o crescimento de São Paulo.
Em O sangue das horas (1943) e Um dia depois do outro (1947), encontramos o poeta voltado para a reflexão sobre o destino humano e para os sentimentos de solidão, melancolia, frustração, angústia e perplexidade diante da vida.



Sala de Espera

(Ah, os rostos sentados
numa sala de espera.
Um "Diário Oficial" sobre a mesa.
Uma jarra com flores.
A xícara de café, que o contínuo
vem, amável, servir aos que esperam a audiência
[marcada.

Os retratos em cor, na parede,
dos homens ilustres
que exerceram, já em remotas épocas,
o manso ofício
de fazer esperar com esperança.
E uma resposta, que será sempre a mesma: só amanhã.
E os quase eternos amanhãs daqueles rostos sempre
[adiados
e sentados
numa sala de espera.)

Mas eu prefiro é a rua.
A rua em seu sentido usual de "lá fora".
Em seu oceano que é ter bocas e pés
para exigir e para caminhar.
A rua onde todos se reúnem num só ninguém coletivo.
Rua do homem como deve ser:
transeunte, republicano, universal.

Onde cada um de nós é um pouco mais dos outros
do que de si mesmo.
Rua da procissão, do comício,
do desastre, do enterro.
Rua da reivindicação social, onde mora
o Acontecimento.

A rua! uma aula de esperança ao ar livre.


Publicado no livro Um dia depois do outro, 1944/1946 (1947).

In: RICARDO, Cassiano. Poesias completas. Pref. Tristão de Athayde. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1957. p.263-26




A Rua

Cassiano Ricardo

Bem sei que, muitas vezes,
O único remédio
É adiar tudo. É adiar a sede, a fome, a viagem,
A dívida, o divertimento,
O pedido de emprego, ou a própria alegria.
A esperança é também uma forma
De continuo adiamento.
Sei que é preciso prestigiar a esperança,
Numa sala de espera.
Mas sei também que espera significa luta e não, apenas,
Esperança sentada.
Não abdicação diante da vida.


A esperança
Nunca é a forma burguesa, sentada e tranqüila da espera.
Nunca é figura de mulher
Do quadro antigo.
Sentada, dando milho aos pombos.


http://www.fccr.org.br/cassiano/index.htm
(site da Fundação que leva o nome do poeta, e onde se ouve a própria voz de Cassiano declamando poesia A flauta que me roubaram)