terça-feira, 8 de julho de 2008

Cassiano Ricardo




Cassiano Ricardo Leite, nasceu em São João dos Campos (SP), em 1895, e faleceu no Rio de Janeiro, em 1974. Estudou Direito em São Paulo e no Rio de Janeiro, onde diplomou-se em 1917. Retorna a São Paulo, dedicando-sse ao jornalismo, à administração pública e à política. Com Menotti del Picchia e Plínio Salgado, funda o Movimento Verde-amarelo, participando da corrente nacionalista do Modernismo brasileiro. Em 1937, foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras.

OBRAS
Poesia: Dentro da noite (1915); A Frauta de Pã (1917); Vamos caçar papagaios (1926); Martim-Cererê ou O Brasil dos meninos, dos poetas e dos heróis (1928); O sangue das horas (1943); Um dia depois do outro (1947); Jeremias sem-chorar (1963); Os sobreviventes (1971).

CARACTERÍSTICAS DA OBRA

Como outros modernistas da primeira fase, Cassiano Ricardo estreou sob influências parnasiano-simbolistas, de que são exemplos os livros Dentro da noite (1915) e A frauta de Pã (1917). Contudo, sua inquietação estética fez com que chegasse a experiências das vanguardas poéticas mais recentes.
Com Vamos caçar papagaios (1926) e Martim-Cererê (1928), o poeta entra em sua fase nacionalista “verde-amarelista”, em que predomina a brasilidade dos temas.

Martim-Cererê, o livro mais importante dessa fase, é uma recriação poética da descoberta e colonização do Brasil. Nele, o poeta incorpora ao seu canto a fauna e a flora brasileiras, o índio, o bandeirante, o imigrante, a temática penetração territorial, a fundação das cidades, nossos heróis e o crescimento de São Paulo.
Em O sangue das horas (1943) e Um dia depois do outro (1947), encontramos o poeta voltado para a reflexão sobre o destino humano e para os sentimentos de solidão, melancolia, frustração, angústia e perplexidade diante da vida.



Sala de Espera

(Ah, os rostos sentados
numa sala de espera.
Um "Diário Oficial" sobre a mesa.
Uma jarra com flores.
A xícara de café, que o contínuo
vem, amável, servir aos que esperam a audiência
[marcada.

Os retratos em cor, na parede,
dos homens ilustres
que exerceram, já em remotas épocas,
o manso ofício
de fazer esperar com esperança.
E uma resposta, que será sempre a mesma: só amanhã.
E os quase eternos amanhãs daqueles rostos sempre
[adiados
e sentados
numa sala de espera.)

Mas eu prefiro é a rua.
A rua em seu sentido usual de "lá fora".
Em seu oceano que é ter bocas e pés
para exigir e para caminhar.
A rua onde todos se reúnem num só ninguém coletivo.
Rua do homem como deve ser:
transeunte, republicano, universal.

Onde cada um de nós é um pouco mais dos outros
do que de si mesmo.
Rua da procissão, do comício,
do desastre, do enterro.
Rua da reivindicação social, onde mora
o Acontecimento.

A rua! uma aula de esperança ao ar livre.


Publicado no livro Um dia depois do outro, 1944/1946 (1947).

In: RICARDO, Cassiano. Poesias completas. Pref. Tristão de Athayde. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1957. p.263-26




A Rua

Cassiano Ricardo

Bem sei que, muitas vezes,
O único remédio
É adiar tudo. É adiar a sede, a fome, a viagem,
A dívida, o divertimento,
O pedido de emprego, ou a própria alegria.
A esperança é também uma forma
De continuo adiamento.
Sei que é preciso prestigiar a esperança,
Numa sala de espera.
Mas sei também que espera significa luta e não, apenas,
Esperança sentada.
Não abdicação diante da vida.


A esperança
Nunca é a forma burguesa, sentada e tranqüila da espera.
Nunca é figura de mulher
Do quadro antigo.
Sentada, dando milho aos pombos.


http://www.fccr.org.br/cassiano/index.htm
(site da Fundação que leva o nome do poeta, e onde se ouve a própria voz de Cassiano declamando poesia A flauta que me roubaram)

Nenhum comentário: