segunda-feira, 28 de julho de 2008

Falando sério... Gabriela Araujo



Falando sério...
Gabriela Araujo

Não importava o lugar, as pessoas, o ano, o momento ou o dia da semana. Insinuavam que o jeito único e incomparável de vestir-se, o corte de cabelo desatualizado, idéias comprometedoramente criativas, opiniões transparentes, sentimentos expostos demais e gestos extravagantes refletiam seu pouco caso para tudo e com todos.

Não precisava falar. Sua imagem causava incômodo nas mães que garantiam a personificação do fracasso e desgosto que os filhos, ainda crianças, jamais se tornariam. Já as mais velhas ou solteiras passavam longe, mas não deixavam de comentar aquela figura descomungada. Rapazes e senhores gargalhavam em deboche a graça do bobo e nele o cuspiam o escarro da desaprovação. Vivia refletindo uma imagem enorme para aquela civilização contida o suficiente para caber em uma caixinha de fósforos.

Era inadequado para qualquer situação. Talvez por suas idéias progressistas, talvez pelo excesso de criatividade, talvez porque andava rumo a qualquer direção ou por não se restringir aos obstáculos impostos pelas regras e costumes da boa aparência.

Ele era um, enquanto os outros se assemelhavam.

Viveu só e morreu incompreendido. Mas, continua posto em pessoas excêntricas, recriminadas e julgadas por preferirem o azul ao invés do amarelo, em gente que não age e não pensa como a gente.

Falando sério, gostaria de ser como eles que julgo através de atos falhos e do meu impregnado senso comum! Gostaria de não me limitar no mais um e ser um só.

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