sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Dura jornada - Mell Neves



Dura Jornada

Jair não chamava mais aquilo de sofrimento.Era o inferno calcinante na Terra.A terra que ressequia a cada cuspida pirofágica do astro-rei.Cuspia e lambia.O solo rachado.A sola rachada.


A boca- torta de apoiar a ponta de cigarro de palha,por muitas vezes ali,esquecido
apagado - praguejava contra a dura sina.Não que ele tenha sido sempre um homem amargo,mas a aridez da vida tornou agora infértil seu coração.


Tentara até um último momento driblar a seca.E agora era hora de por o pé na estrada.Nunca mais aquela sinfonia de estômagos roncando ao dormir.Era a esperança.Partiram.


E à medida que andavam a fome aumentava.Nem um mato de comer pela frente.Nem os juazeiros da fazenda do seu Agenor, outrora verde, agora avistavam-se ressequidos.


Os juazeiros aproximaram-se,recuaram,sumiram-se.O menino mais velho pôs-se a chorar,sentou-se no chão.-Anda, condenado do diabo,gritou-lhe o pai.-Um grito que servia pra ele mesmo,pois as forças também já o abandonavam.Vem que eu te levo.Pegou o menino nos braços e seguiu viagem.

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