segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Lamentos no sertão - Carmen Apóstolo



Lamentos No Sertão
( Carmen Apóstolo)

Os juazeiros cansaram...Cansaram de arribar.Já não davam suas frutas e seus galhos ressequidos sumiram na paisagem sem cor. Pareciam haver tombado lá no marco do horizonte
onde nunca chegarão. Recuaram, sumiram... Tudo era silêncio quando um som bem
suave e triste , na forma de um lamento ,surgiu entre as ossadas de animais e raízes secas já desprendidas da terra.Fui me aproximando até chegar por perto. Era um homem de aparência rude, com as mãos e pés esturricados pelo sol e a pele quase a lhe grudar nos ossos. Os dedos sangravam sobre a terra que chora a secura de seu veio.
Raimundo era seu nome. Ali estavam: o retirante, a mulher, dois filhos e um cãozinho fiel. Todos a acompanharem o calvário, os lamentos profundos daquele homem, ao qual só restava a esperança. A mulher seguia o mesmo pensamento do companheiro. Achava que o único
remédio era crer e esperar. E aquele homem , nada fazia senão olhar para o céu à procura
de um sinal de chuva.
Um dia ele resolveu confidenciar-me seus profundos sentimentos:
_Não sei porque solto as palavras amargas da minha boca ! É como se eu pudesse, assim, consertar o mundo!
O filho mais velho pôs-se a chorar. O pai acrescentou:
_Anda, condenado do diabo, gritou-lhe ao ouvido, ao que ele respondeu:
_ Eu sei, meu pai, que você me ama!
Em meio a tudo isto, a chuva caiu, a catinga ficou verde como a esperança, os meninos brincavam felizes na terra fofa. Foi a verdadeira Ressurreição! E o mandacaru na serra, redimiu os pecados da miséria e da fome.

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