quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Encontro de 21 de outubro - Lição de sala e lição de casa


OFICINA IDÉIAS E IDEAIS
3º encontro – Livraria Cortez – 21 de outubro de 2008

AMBIGUIDADE - Evite-a para fazer uma boa redação

A ambigüidade é um dos problemas que podem ser evitados na redação. Ela surge quando algo que está sendo dito admite mais de um sentido, comprometendo a compreensão do conteúdo.

Isso pode suscitar dúvidas no leitor e levá-lo a conclusões equivocadas na interpretação do texto.

A inadequação ou a má colocação de elementos como pronomes, adjuntos adverbiais, expressões e até mesmo enunciados inteiros podem acarretar em duplo sentido, comprometendo a clareza do texto. Observe os exemplos que seguem:

· "O professor falou com o aluno parado na sala"

Neste caso, a ambigüidade decorre da má construção sintática deste enunciado. Quem estava parado na sala? O aluno ou o professor? A solução é, mais uma vez, colocar "parado na sala" logo ao lado do termo a que se refere: "Parado na sala, o professor falou com o aluno"; ou "O professor falou com o aluno, que estava parado na sala".

· "A polícia cercou o ladrão do banco na rua Santos."

O banco ficava na rua Santos, ou a polícia cercou o ladrão nessa rua? A ambigüidade resulta da má colocação do adjunto adverbial. Para evitar isso, coloque "na rua Santos" mais perto do núcleo de sentido a que se refere: Na rua Santos, a polícia cercou o ladrão; ou A polícia cercou o ladrão do banco que localiza-se na rua Santos"

· "Pessoas que consomem bebidas alcoólicas com freqüência apresentam sintomas de irritabilidade e depressão."

Mais uma vez a duplicidade de sentido é provocada pela má colocação do adjunto adverbial. Assim, pode-se entender que "As pessoas que, com freqüência, consomem bebidas alcoólicas apresentam sintomas de irritabilidade e depressão" ou que "As pessoas que consomem bebidas alcoólicas apresentam, com freqüência, sintomas de irritabilidade e depressão".

Uma das estratégias para evitar esses problemas é revisar os textos. Uma redação de boa qualidade depende muito do domínio dos mecanismos de construção da textualidade e da capacidade de se colocar na posição do leitor.

Ambigüidade como recurso estilístico

Em certos casos, a ambigüidade pode se transformar num importante recurso estilístico na construção do sentido do texto. O apelo a esse recurso pode ser fundamental para provocar o efeito polissêmico do texto. Os textos literários, de maneira geral (como romances, poemas ou crônicas), são textos com predomínio da linguagem conotativa (figurada). Nesse caso, o caráter metafórico pode derivar do emprego deliberado da ambigüidade.

Podemos verificar a presença da ambigüidade como recurso literário analisando a letra da canção "Jack Soul Brasileiro", do compositor Lenine.

Já que sou brasileiro
E que o som do pandeiro é certeiro e tem direção
Já que subi nesse ringue
E o país do suingue é o país da contradição
Eu canto pro rei da levada
Na lei da embolada, na língua da percussão
A dança, a muganga, o dengo
A ginga do mamulengo
O charme dessa nação (...)

Podemos observar que o primeiro verso ("Já que sou brasileiro") permite até três interpretações diferentes. A primeira delas corresponde ao sentido literal do texto, em que o poeta afirma-se como brasileiro de fato. A segunda interpretação permite pensar em uma referência ao cantor e compositor Jackson do Pandeiro - o "Zé Jack" -, um dos maiores ritmistas de todos os tempos, considerado um ícone da história da música popular brasileira, de quem Lenine se diz seguidor. A terceira leitura para esse verso seria a referência à "soul music" norte-americana, que teve grande influência na música brasileira a partir da década de 1960.

O recurso à ambigüidade no texto publicitário

Na publicidade, é possível observar o "uso e o abuso" da linguagem plurissignificante, por meio dos trocadilhos e jogos de palavras. Esse procedimento visa chamar a atenção do interlocutor para a mensagem. Para entender melhor, vamos analisar a seguir um anúncio publicitário, veiculado por várias revistas importantes.

Sempre presente
Ferracini Calçados

O slogan "Sempre presente" pode apresentar, de início, duas leituras possíveis: o calçado Ferracini é sempre uma boa opção para presentear alguém; ou, ainda, o calçado Ferracini está sempre presente em qualquer ocasião, já que, supõe-se, pode ser usado no dia-a-dia ou em uma ocasião especial.

Se você não se julga ainda preparado para uma utilização estilística da ambigüidade, prefira uma linguagem mais objetiva. Procure empregar vocábulos ou expressões que sejam mais adequadas às finalidades do seu texto.

*Nilma Guimarães é graduada e licenciada em Letras Clássicas e Vernáculas pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Atualmente faz mestrado em Educação na USP, na área de metodologia do ensino de Língua Portuguesa.

PROPOSTA DE TEXTO PARA A SALA: Você vê na bolsa dele um presente embrulhado com muito requinte e fica radiante, pois seu aniversário se aproxima. Curiosa abre com cuidado a embalagem e vê linda lingerie amarela envolta em cetim branco bem organizada numa caixa dourada que exala um suave perfume floral. Emocionada com o presente que ganharia prefere guardar segredo de sua descoberta para fazer-se surpresa quando fosse presenteada. Eis que no dia do aniversário...

SEGUNDO TEXTO PARA SER FEITO EM SALA: Na calçada tumultuada o homem caminha apressado para evitar mais um atraso em seu novo trabalho. Será o terceiro da semana e o chefe não iria tolerar. Sufocado e suando frio, corre ofegante. Mas as pessoas parecem se multiplicar à sua frente, os carros cruzam seu caminho, os camelôs interceptam sua trajetória, tudo parece um complô para que ele seja despedido outra vez. CONTE ESSA HISTÓRIA DANDO AOS PERSONAGENS SUAS CARACTERÍSTICAS. DÊ AO TEXTO UM DESFECHO QUE CHOQUE O LEITOR. SURPREENDA-O! OUSE! SAIA DO “LUGAR COMUM”!

Fizemos esses dois textos em sala. Fizemos também um texto coletivo que ficou muito bom! Estamos ficando bons nisso! (risos). Quem não esteve presente pode fazer também esses dois contos e leva-los para serem lidos no próxima terça feira.

Para casa:
Criar um conto que se passe em época de Natal. Não faça um conto natalino de festejos comuns. Isso servirá para "sairmos do lugar comum".
OUSE!
CRIE PERSONAGENS DIFERENTES.
SITUAÇÕES INUSITADAS.

Nenhum comentário: