domingo, 10 de agosto de 2008

Eu, Avenida Paulista - Ana Maria Maruggi



Sobre mim duros pés batem e rebatem ao ritmo de palavras de ordem vindas de professores insatisfeitos ou de costureiras tristes que se aglomeram atrapalhando o tráfego, quando então uma ambulância nervosa também grita tentando romper o clamor da multidão.

Os gays me sobrecarregam o dorso com milhares de saltos e carros alegóricos. Sou palco de perucas e paetês que buscam reconhecimento do mundo. Depois, cansados deixam os buás rosas-choque, plumas brancas e purpurinas abandonados no meu colo ao final do corso.

Monet, Manet, Picasso, Van Gogh e outras obras famosas estão guardadas nas paredes de Lina, que construiu sua casa em mim.

Homens de bolsas cheias e lenços de seda abrem suas valises Prada nas mesas de diretores de bancos do mundo que se guardam aqui em modernos prédios de vidros.

Tenho Cultura no corpo. Tenho sangue de Santa Catarina na veia. Tenho rosas nos cabelos. Muito dinheiro no bolso. Sob mim deslizam trens, fios e ratos.

Minha vida começa num Paraíso e termina em Consolação...

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